
domingo, 11 de março de 2012
sábado, 10 de março de 2012
A VERDADE QUE INCOMODA
Por Márcio Noal
Sou contra qualquer tipo de preconceito. Xenofobismos, ufanismos, despotismos, autoritarismos, conservadorismos, entre vários tipos de outros “ismos”.
Tive a oportunidade de ser aluno da brilhante Professora (com P maiúsculo mesmo) Walkiria Benedeti Cardoso Araújo enquanto estudava no curso de Bacharel em Direito da Unibalsas, e posso falar com uma propriedade particular a seu respeito, pois além de aluno, me tornei seu amigo, e sei, que apesar de seus rompantes ideológicos, ela não é mulher de sair falando besteiras, como também não é mulher de medir palavras.
Doravante, sei também, que a referida professora, ainda que destituída de um filtro mais “político” (pois ela não tem o rabo preso com ninguém), não teria falado coisas em sua entrevistas que não tivesse, mesmo que no fundo, um mínimo de verdade.
Posso até concordar que em alguns pontos, a professora, no ímpeto de suas palavras, abusa e abusou de algumas colocações durante o transcorrer de sua entrevista, fato este, que deu, aos menos desprovidos de um cérebro, margens a péssimas interpretações (e pensem: já que estamos falando de uma cidade católica, não usar o cérebro que lhes foi dado por Deus É PECADO).
Qualquer pessoa que tiver um pouco de vivência, de experiência fora desse servilismo cultural arraigado à sociedade de modo geral, que estiver desprovido de interesses e ufanismos pueris, desse coronelismo anacrônico e da estupidez cultural daqueles que “deveriam” primar pela nossa sociedade também teriam se indignado como ela.
Mas não! É mais fácil “entender” que houve uma agressão particular ao “nosso povo” e culpá-la por isso, do que entender que o seu desabafo, foi uma manifestação de desgosto perante ao contraste gritante que assola nossa região.
De um lado, temos o nosso velho modo de administrar os bens públicos como se cuidássemos do nosso quintal (e olha que tem muito quintal bem mais cuidado), do outro, temos uma população culturalmente passiva e conivente com a vergonha que nos bate à porta e esfrega-nos a face.
Somos a personificação do Discurso da Servidão Voluntária de Etiénne La Boetié, que por sinal, caiu no PAES de 2012. Bradamos ao vento nossa indignação e, dicotomicamente, ao mesmo tempo damos o aval (registrado em cartório) a essa miscelânea administrativa que rege à batuta invisível a nossa cidade.
Somos uma província antípoda. De um lado, ricos que desfilam em seus portentosos carros de luxo (que em grande parte ainda pertencem as empresas fiduciárias), e, de outro lado, a miséria abissal de nossa população, que não vê carne, nem no dicionário, pois também não tem acesso à educação.
Não estou fazendo apologia a Mikhail Aleksandrovitch Bakunin ou a Pierre-Joseph Proudhon, nem desejo provocar uma incitação da população contra aqueles que nos algemam ao ar livre, mas sejamos sensatos, vivemos no fim do mundo, em um lugar comandado por uma corja que sorri às nossas costas (quando não muito, à nossa própria cara) como os ignorantes que somos.
Vejam as estatísticas. Procurem nos anais do IGBE. Somos campeões em tudo. Estamos em primeiro ou em segundo lugar (quando muito terceiro) em quase todos os tomos que dizem respeito à qualidade de vida. Se existe um lugar onde há sobrevida, esse lugar é aqui.
Disse o fulano que escreveu a “nota de repúdio” à nobre professora: (...) “e como se a felicidade dos mesmos fosse apenas ilusão, pelo simples fato de não se dispor de shoppings, teatros, cinemas. Entendemos que a felicidade independe de bens materiais, exceto aqueles que garantem a dignidade da pessoa humana” (http://www.balsas.ma.gov.br/home/index.php/todas-noticias/item/83-nota-sobre-o-pronunciamento-de-walkiria-araujo-referente-ao-povo-de-balsas).
Em primeiro lugar, é fácil falar de que a felicidade não depende de bens materiais quando você não tem de se preocupar se vai comer hoje ou não. Em segundo, é exatamente esse tipo de mentalidade, que desqualifica o valor da arte, como o teatro e o cinema, que nos coloca onde querem que estejamos: atolados em nossa estupidez, pois assim somos mais passíveis de sermos manipulados.
Agora, de que espécie de “dignidade humana” estaria se referindo o nobre interlocutor da Prefeitura Municipal de Balsas em sua nota de repúdio quando diz que não precisamos de arte, de educação e de comida à mesa?
Se alguém deveria escrever uma nota de repúdio a vergonhosa situação a que somos diariamente infringidos, somos nós: esse povo “feliz” que perambula mambembe pelas ruas de nossa bem cuidada cidade.
Com as devidas ressalvas, parabenizo a Professora Walkiria Benedeti Cardoso Araújo pela sua coragem e atitude de dizer o que pensa, de maneira racional e sustentável.
Em todo caso, àqueles que também se sentirem agredidos pela minha ousadia e sinceridade, que se alimentem dessas falácias mal cheirosas, mal escritas e borradas de vergonha nas linhas da nossa história.
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